2008/01/29

Compreender a AVA



AVA
A partir do que já tem sido discutido estive a reflectir sobre o que já foi construído sobre esta personagem. Sabemos que ela vai funcionar como um avatar, uma figura ambígua, alguém que tem um pé assente na realidade concreta e outro no “mundo digital”. A sua figura está presente nestes dois universos e a sua presença oscila entre um e outro, embora seja pertinente pensar se estas duas realidades não serão apenas uma. É importante que a personagem seja caracterizada consoante estes dois universos. Por um lado ela é um avatar que sai para fora do computador e que personifica alguém, uma rapariga real e comum. Por outro esta personificação mantém os traços da identidade anterior. A intermitência e a ambiguidade são uma característica importante nesta personagem. Esta ficção assenta nestes dois pressupostos.



Podemos partir assim para uma ficção que se pode dizer, quase científica. Quero propor agora a analogia com um filme, The Purple Rose of Cairo (http://www.imdb.com/title/tt0089853/) de Woody Allen, onde um actor de cinema trespassa a tela do cinema para a realidade em busca de um amor que é impossível, a personagem de um filme que se (re)transforma em pessoa de carne e osso, mas que ainda assim, mantém algumas traços passados. A AVA podia ser alguém que estivesse constantemente cá e lá, no real e no digital tal como o actor sai e entra do ecrã. Poderemos pensar numa conversão de uma criação digital para uma pessoa comum? Como o Pinóquio? Ou será uma “bonequização” de alguém? Penso que a solução passa por manter essa ambiguidade na construção da nossa AVA. Esta ambivalência permite-nos partir para uma metáfora que me parece ser importante nesta ficção que aqui estamos a construir, a de alguém que se apresenta como um produto do seu tempo e que através da sua figura (ou da sua vida) pretende documentar essa vida e esse mundo. Os conceitos de pós-humano, de cyborg, ou de clone estarão presentes na construção da AVA como referências do nosso tempo. A assunção de tudo isto implica uma postura crítica perante o progresso tecnológico e uma excessiva tecnocracia que caracteriza todo esta “revolução digital” a que se assiste.



A demanda da AVA não será certamente a busca de um amor mas a exploração e o registo documental de ambas as realidades. Será tempo para a invocação de um outro filme, O Homem da Câmara de Filmar de Dziga Vertov (http://www.imdb.com/title/tt0019760/), em que o realizador procurou documentar em cinema o meio onde vivia, as máquinas, o progresso, em suma uma revolução moderna que se estava a desencadear. A nossa AVA poderá funcionar como um olhar atento à nossa vida contemporânea, aos fenómenos tecnológicos e sociais a que assistimos. Ela será alguém que partirá à exploração destas duas realidades e que as documentará através da fotografia, do vídeo e do áudio.



Depois de tudo isto vejo a figura da AVA, por um lado, como um boneco cibernético- como o replicante do Blade Runner – em que a sua cara está caracterizada. O uso de maquilhagem poderá ser interessante para fazer passar essa sugestão de “ser digital/não humano”, num tom pálido e um pouco “frio” ou “maquinal”. Por outro a sua indumentária poderia contrastar com essa figura maquinal. Ela podia vestir roupas práticas, como alguém que está em trabalho, numa missão importante. Poderá usar um daqueles coletes com muitos bolsos. Um chapéu, calças e botas (tipo militar mas sem camuflado). Eu diria que os seus movimentos poderão ser tão naturais como uma qualquer rapariga. Em suma a AVA é alguém que vai partir à exploração dos seus mundos (ou do seu mundo). Todas estas questões são sujeitas, é claro, à discussão entre todos e nomeadamente com a Sara.

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